Vamos para mais uma publicação que coloca as palavras “projeto” e “decepção”, de certa forma, juntas.
Em nossa primeira publicação sobre esse assunto, citamos que 70% dos projetos não alcançam o resultado esperado e isso é como um buraco negro que suga grandes quantidades de dinheiro das empresas.
O risco de ter perdas financeiras é inerente a todos os investimentos. Como os projetos industriais são um tipo de investimento, as companhias esperam obter retornos financeiros01 sobre o capital investido e esse retorno esperado pode ser decorrente de vários fatores (finalidade do projeto), como aumento da produtividade, ganhos obtidos com a venda de um novo produto, etc.
Um projeto, por definição, é um esforço temporário e, talvez, essa seja uma armadilha para empresas que tenham menor capacidade de análise de cenários. Mesmo que seja um projeto de curta ou média duração, as empresas devem avaliar continuamente o andamento do projeto e atualizar as projeções dos benefícios que serão decorrentes de sua implementação. Caso isso não ocorra, haverá maiores chances desse projeto fazer parte daqueles 70% que não cumprem o que era prometido.
Mas e o tal sunk cost? Sunk cost é o custo que não pode ser recuperado. Imagine um jogador de pôquer que perdeu muito dinheiro e decide apostar mais e mais dinheiro para recuperar as perdas acumuladas. Você concorda que esse é um plano ruim, irracional ou ilógico?
A falácia do custo afundado (ou falácia do custo irrecuperável ou sunk cost fallacy) é justamente a decisão de se continuar investindo em algo, mesmo que isso não seja racional e esse é um dos caminhos para aquele buraco negro que suga o dinheiro e que citamos há pouco. A decisão de continuar investindo tempo e/ou dinheiro, só pelo fato de já ter investido muito tempo e/ou dinheiro será sempre uma decisão ruim. É preciso fazer avaliações técnicas e racionais.
Economistas afirmam que o custo irreparável não deve afetar a decisão de encerrar ou não um projeto. A decepção por encerrar um projeto pode custar muito menos do que a decepção de ver que o objetivo do projeto nunca será alcançado, mesmo depois de “concluído”. Encerrar um projeto no momento certo é um sinal de gestão madura e isso não deve ser motivo para envergonhar o time de projeto (longe disso). As empresas, o mercado, as tecnologias, etc. estão em ciclos muito dinâmicos e os cenários podem mudar rápida e drasticamente; estancar a perda de dinheiro em um projeto que perdeu a viabilidade econômica é fugir da falácia do custo afundado.
Recentemente a Ford interrompeu um projeto de US$3,5 bilhões. A companhia decidiu limitar os gastos e interromper (pode ser que seja uma ação temporária) a construção de uma fábrica de baterias nos Estados Unidos, até que a empresa volte a ter confiança na viabilidade do negócio. A Ford não anunciou o valor já gasto, mas é claro que esse projeto já consumiu “bastante” tempo e dinheiro e talvez a Ford ainda tenha que pagar multas contratuais, etc. Mas faz todo sentido gastar “somente” parte do total planejado, quando o retorno não é mais esperado. Ponto positivo para a Ford!
Nota 01:
Há projetos que não têm a finalidade de gerar lucros – mas esse é um assunto para outra postagem.