Na primeira publicação dessa série, abordamos alguns aspectos sobre possíveis alterações dos planos de redução de uso de energia nucleoelétrica na Europa e sobre o plano de expansão brasileiro.
Diante do cenário de expansão do uso dessa fonte de energia no Brasil, é importante avaliar os prós e contras de instalações desse tipo, mas antes de citar alguns pontos a favor e outros contra, é importante citar que existem duas maneiras de aproveitar a energia atômica (ver nota 01), que são a fissão nuclear e a fusão nuclear (ainda em estudos para aplicações comerciais futuras). A técnica utilizada para geração de energia elétrica é a fissão nuclear e o elemento utilizado é o urânio.
Os reatores utilizados para geração de energia elétrica (onde ocorre a fissão nuclear), são equipamentos complexos e que despertam medos e fascínios, além de críticas e aprovações de especialistas e essa publicação mostra alguns argumentos das duas correntes de pensamento. A tabela abaixo mostra alguns.
VANTAGENS | DESVANTAGENS |
Baixo impacto ambiental derivado da construção de uma usina nuclear | Alto risco de impacto ambiental severo, em caso de vazamento radioativo |
Não emite carbono | Fonte não renovável |
Alta disponibilidade de energia, independente de fatores ambientais | Geração de lixo nuclear |
Pode ser instalada próxima à centros urbanos | Alto risco para pessoas, em caso de vazamento radioativo / Grande utilização de água |
Baixo custo de geração | Alto custo de instalação |
Altos índices de geração de energia elétrica (energia vs área instalada / energia vs quantidade de combustível) | Alta complexidade operacional |
As questões relativas à segurança podem ser apontadas como pontos fortes a serem debatidos, interessantemente, tanto pelos defensores do uso dessa fonte de energia, quanto por seus críticos.
Atualmente, existem mais de 400 centrais nucleoelétricas em operação no mundo e a primeira instalação desse tipo entrou em operação em meados dos anos de 1950. Passados quase 70 anos, desde o início da operação da primeira central nucleoelétrica, houve “poucas” ocorrências de acidentes graves.
Segundo uma publicação de 2011, feita pouco tempo após o acidente de Fukushima (Japão), indicava que houve, até aquele momento, menos de 100 mortes decorrentes de acidentes envolvendo radiação ionizante. Essa mesma publicação apontava que a principal causa dos acidentes eram os equipamentos para diagnósticos médicos.
O acidente ocorrido em Fukushima atingiu o nível 7 na escala INES, como mostrado na figura abaixo; esse foi o último grande acidente em instalações nucleares e não houve registro de perdas humanas.
Em 1981, foi construída a usina de Zaporizhzhia, na Ucrânia. Essa é a maior usina da Europa, contendo seis reatores, que contam com tecnologia mais moderna do que os reatores que havia em Chernobyl. A usina possui lagos de resfriamento para combustível nuclear usado e requerem energia elétrica e água continuamente. Com a recente invasão da Ucrânia, as forças russas capturaram a usina de Zaporizhzhia e, durante um combate, a usina sofreu um incêndio em um centro de treinamento.
O físico nuclear Edwin Lyman deixa claro “que se o resfriamento do reator de Zaporizhzhia fosse interrompido, poderia levar um ou dois dias até que o combustível usado começasse a superaquecer e se degradar”.
A liberação radioativa poderia ser pouco maior que a escala de Chernobyl.
As técnicas de segurança aplicadas em instalações nucleares evoluíram muito nesses quase 70 anos, mas considerando que nenhuma vida deveria ser perdida e que não deveria ocorrer nenhum dano ambiental, você considera que os números das usinas nucleoelétricas são favoráveis? (a compilação de alguns números, abaixo, pode te ajudar).
NUCLEOELÉTRICAS RESUMIDAS EM ALGUNS NÚMEROS |
História: 70 anos |
Matriz energética mundial: responsável por 17% da energia elétrica |
Grande acidentes: 02 (Chernobyl, 1986 | Fukushima, 2011) |
Duração dos impactos dos acidentes: décadas |
Mesmo com a grande evolução dos sistemas de segurança, eventos como os combates nos arredores da usina de Zaporizhzhia fogem dos limites das técnicas de controle e de segurança de processos que podem ser aplicadas.
O cenário atual mostra que instalações nucleares continuarão a despertar medos e fascínios, pois tudo indica que essa fonte de energia continuará sendo utilizada por bastante tempo; um exemplo é o início das operações de um dos maiores reatores nucleares do mundo, que foi construído na Finlândia e começou a operar em 2023.
Na próxima semana traremos uma postagem que mostrará algumas etapas do ciclo de vida do urânio.
Nota 01:
Esse é um dos conceitos físicos mais citados de todos os tempos. A famosa equação E=mc2, de Albert Einstein, preparou o terreno para as pesquisas envolvendo energia nuclear. Com essa equação, Einstein mostrou para o mundo que uma pequena massa pode ser convertida em uma ENORME quantidade de energia