Em nossa primeira postagem sobre esse assunto, revisitamos algumas características das três primeiras revoluções industriais e fizemos um convite para pensar se estamos em um momento de transição.
Resumir a quarta revolução industrial pode não ser tarefa simples, já que os horizontes e os limites tecnológicos estão bem dilatados. De qualquer forma, mostraremos alguns detalhes dessa revolução (ou não!).
Mas, antes de apresentar algumas características dessa “era”, é importante chamar a atenção para pensarmos como a quarta revolução afeta ou como afetará nossas vidas. É importante pensarmos se viveremos períodos nos quais a tecnocracia ditará as relações de poder e como isso poderá afetar, por exemplo, os empregos e as fontes de renda. Partindo da premissa de que mudar é preciso, avaliar as características gerais da quarta revolução industrial pode ser útil para se preparar para as mudanças que virão e virão cada vez mais rapidamente.
Embora seja comum usar o termo quarta revolução industrial, fica claro que essa revolução vai muito além dos processos industriais; essa característica também pôde ser verificada na terceira revolução industrial, mas a quarta é diferente em tudo, já que ela não pode ser simplesmente descrita como um conjunto tecnológico ou conjunto de técnicas. A quarta revolução industrial transcende os limites físicos de uma empresa e a relação entre empresas, por exemplo.
Um dos termos mais comuns, referentes, claro, à quarta revolução industrial é a “fábrica inteligente”, (tenho ressalvas sobre utilizar esse termo). A “fábrica inteligente” mistura processos reais e virtuais de forma bastante flexível e recebe (pode receber) cooperação em nível global. Parece confuso, mas isso pode ser resumido como: uma companhia rompe seus limites físicos e tecnológicos.
O engenheiro e economista alemão Klaus Schwab, ícone teórico da quarta revolução e criador do conceito “quarta revolução industrial”, apresenta em sua obra A Quarta Revolução Industrial: “Estamos à beira de uma revolução tecnológica que modificará a forma que vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em uma escala de alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o gênero humano já experimentou antes”.
Pegando o que está escrito nos dois últimos parágrafos, podemos pensar que o que é entendido como valor de uma empresa será alterado? Considerando um cenário “de quarta revolução industrial” estabelecido, o que vale mais: a) ativos de uma empresa? b) conhecimentos de uma empresa? c) cadeia de suprimento de materiais e serviços? d) cadeia de cooperação?
Finalmente, vamos à algumas características da quarta revolução industrial.
(Algumas) Tecnologias:
O site portal da indústria tem uma matéria que lista algumas tecnologias relacionadas à quarta revolução industrial; a seguir as reproduzimos:
– Inteligência artificial;
– Computação em nuvem;
– Big data;
– Cyber segurança;
– Internet das coisas;
– Robótica avançada;
– Manufatura digital;
– Manufatura aditiva;
– Integração de sistemas;
– Sistemas de simulação;
– Digitalização;
Como pode ser visto, a quarta revolução se apoia no desenvolvimento dos sistemas digitais (a velocidade com a qual esses sistemas evoluem representam um grande desafio para as indústrias, que é a formação de mão-de obra qualificada. Esse é mais um ponto que deve ser muito bem analisado e discutido).
O uso de big data, por exemplo, pode definir hoje, como serão os produtos de amanhã. Pode, ainda, ajudar a prever problemas futuros em produtos e processos produtivos. A antecipação de problemas pode mudar drasticamente como os processos produtivos são melhorados; os melhores conceitos estatísticos, por exemplo, analisam dados do passado, enquanto os sistemas digitais (big data, inteligência artificial e sistemas de simulação, por exemplo) oferecem potencial para prever os problemas futuros.
Impactos no Brasil
Dados disponibilizados pelo Portal da Indústria mostram que a América Latina ainda apresenta pouca adequação ao universo descrito pela quarta revolução industrial, como pode ser visto na Figura 01.
Esse dado pode ser analisado sob diversas óticas, mas destacamos duas:
a) Positivo: há um grande mercado para ser explorado – do ponto de vista econômico, isso indica que é um mercado que receberá (deveria receber) muitos investimentos.
b) Negativo: o atraso tecnológico pode resultar em maior desindustrialização no Brasil, decorrente da falta de competitividade no mercado globalizado.
O trabalho de Elton da Silva Almeida e Ricardo R. G. Pinheiro apresenta uma informação que é preocupante: “De conformidade com Antônio et al. (2018), no caso do polo industrial brasileiro os incentivos à qualificação profissional também permanecerem inalterados”.
A falta de mão-de-obra especializada e a falta de investimentos pode aumentar as dificuldades enfrentadas pela indústria brasileira.
Mas nem tudo é negativo. As evoluções observadas nos campos da genética e da nanotecnologia, por exemplo, podem contribuir com o agronegócio brasileiro. Os benefícios conferidos às produções de sementes e agroquímicos, podem contribuir com as plantações brasileiras.
A indústria brasileira precisará passar por intensas transformações tecnológicas e científicas para se posicionarem nessa nova era. Para passar por essas transformações, é preciso quebrar vários paradigmas e redirecionar o planejamento estratégico. As empresas que se adequarem conseguirão alcançar novos patamares de produtividade e de competitividade, em toda a sua cadeia produtiva.
Temos um grande desafio pela frente e talvez essa seja a oportunidade que o Brasil precisava para promover um processo de reindustrialização.